Resenha: Como as Democracias Morrem

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Como as Democracias Morrem está gerando um burburinho há algumas semanas. Em meio a tanta polarização política, um livro com um título tão forte vem ganhando espaço nas discussões com seus levantamentos fortes e pontuais. Levitsky e Ziblat se propõem a contextualizar o processo democrático e como ele vem sendo ferido de forma mais intensa nos últimos anos. Um livro detalhado e pontual não poderia ter vindo em melhor hora.

Confira a resenha de Como as Democracias Morrem e entenda porque esse livro está fazendo barulho!

"Uma análise crua e perturbadora do fim das democracias em todo o mundo Democracias tradicionais entram em colapso? Essa é a questão que Steven Levitsky e Daniel Ziblatt -- dois conceituados professores de Harvard -- respondem ao discutir o modo como a eleição de Donald Trump se tornou possível. Para isso comparam o caso de Trump com exemplos históricos de rompimento da democracia nos últimos cem anos: da ascensão de Hitler e Mussolini nos anos 1930 à atual onda populista de extrema-direita na Europa, passando pelas ditaduras militares da América Latina dos anos 1970.
E alertam: a democracia atualmente não termina com uma ruptura violenta nos moldes de uma revolução ou de um golpe militar; agora, a escalada do autoritarismo se dá com o enfraquecimento lento e constante de instituições críticas – como o judiciário e a imprensa – e a erosão gradual de normas políticas de longa data. Sucesso de público e de crítica nos Estados Unidos e na Europa, esta é uma obra fundamental para o momento conturbado que vivemos no Brasil e em boa parte do mundo e um guia indispensável para manter e recuperar democracias ameaçadas."

FICHA TÉCNICA

Título: Como as Democracias Morrem
Autores: Steven Levitsky & Daniel Ziblatt
Ano: 2018
Páginas: 272
Idioma: Português
Editora: Zahar
Nota: 4/5
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Até pouco tempo, preocupava-se o fato de que algumas nações e sociedades ainda não vivessem em uma democracia e sim sob regimes autoritários ou monárquicos, mas nos últimos anos vem se tornando pauta o fato de que democracias já consolidadas estão passando por transformações preocupantes e intrigantes. Levitsky e Ziblatt trabalham exatamente essas democracias, com foco na democracia norte-americana, que vem sendo questionada com mais força desde a ascenção de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.

Levitsky e Ziblat fazem, em poucas páginas, um resumo de como funciona a democracia norte-americana, explicam o que e quem seriam os guardiões dessa democracia que se reuniam em salas esfumaçadas e como o sistema foi sendo moldado até que os chamados outsiders pudessem ganhar espaço dentro da política.

"Como não há um momento único - nenhum golpe, declaração de lei ou suspensão da Constituição - em que o regime obviamente "ultrapassa o limite" para a ditadura, nada e capaz de disparar os dispositivos de alarme da sociedade. Aqueles que denunciam os abusos do governo podem ser descartados como exagerados ou falsos alarmistas. A erosão da democracia é, para muitos, quase imperceptível." Página 17


O livro é extremamente focado na democracia norte-americana e em suas nuances. Por diversos capítulos os autores vão delineando os passos da democracia norte-americana, explicando contextos históricos e exemplificando com grandes nomes da política estadunidense. Em determinado capítulo os autores demonstram como se fortaleceu a polaridade política nos Estados Unidos, chegando a extremos que podemos facilmente compreender ao olharmos para a nossa própria política.

Apesar do que parece, o livro não fala sobre como as democracias morrem e sim o que faz com que a democracia norte-americana esteja passando por uma crise. O livro não se propõe a fazer um panorama geral das democracias mundiais e da democracia em si, e sim do contexto estadunidense, na verdade os autores usam exemplos de democracias estrangeiras para justificar e embasar os argumentos que levantam sobre a atual decadência da democracia nos Estados Unidos.


Como as Democracias Morrem é o perfeito retrato de um contexto político preocupante no Brasil e no mundo. Levando em conta todos os questionamentos levantados durante as últimas eleições e os reais e frequentes temores de boa parcela da população brasileira, o livro não poderia ser mais atual. Isso porque os autores afirmam que existem duas regras informais e decisivas para o funcionamento de uma democracia: a tolerância mútua e a reserva institucional. A primeira se refere ao reconhecimento dos direitos democráticos de rivais de competir pelo poder e pelo governo. A segunda significa evitar aquelas ações que, mesmo dentro da lei, violam seu espírito.

Os autores falam como é trágico o paradoxo da vida eleitoral para o autoritarismo uma vez que os assassinos da democracia usam as próprias instituições da democracia - gradual, sutil e mesmo legalmente - para matá-la. Não são precisos golpes de estado para minar uma democracia, esse processo pode e muitas vezes começa com uma polarização extrema por sorte da própria população do país.

Os autores sugerem estratégias que os cidadãos devem e não devem seguir para defender a democracia, com foco nos Estados Unidos. Para tornar ainda mais fácil o entendimento acerca dos passos mencionados pelos autores eles usam exemplos muito didáticos como regras de um jogo de basquete de rua versus as regras do basquete oficial.

"Uma das grandes ironias de como as democracias morrem é que a própria defesa da democracia é muitas vezes usada como pretexto para a sua subversão. Aspirantes a autocratas costumam usar crises econômicas, desastres naturais e, sobretudo, ameaças à segurança - guerras, insurreições armadas ou ataques terroristas - para justificar medidas antidemocráticas." Página 94


A linguagem dos autores é extremamente didática, com referenciais teóricos sendo inseridos de forma bem natural e explicativa ao longo do texto, com exemplos históricos bem desenvolvidos e objetivos. Os autores mantêm uma exemplificação constante mas coerente com os assuntos tratados, sem se excederem demais ou tratar superficialmente de alguns conceitos e passos. Isso torna o livro extremamente acessível e facilmente compreensível, de fácil entendimento, apesar de as referências históricas e políticas serem um pouco distantes dos nomes conhecidos no Brasil.

Por esse motivo, não é um livro para ser lido de uma vez. Apesar de ser de fácil compreensão, tem um conteúdo muito rico e reflexivo, então recomendo que seja uma leitura apreciada com calma. Caso contrário será difícil absorver tudo o que os autores discutem em apenas uma leitura.



É assustador como é fácil identificar, na maior parte do livro, um cenário parecidíssimo com o cenário brasileiro. A ascensão de um outsider e o rompimento gradativo dos pesos e contrapesos da política brasileira demonstram como a confiança nas instituições pode ser extremamente falha se não existir um consenso e um contrato social por parte da própria população.

Como as Democracias Morrem é uma leitura muito esclarecedora e alarmante. É assustador perceber como a democracia vem sendo fragilizada de forma absolutamente legal em diversos países do mundo, incluindo grandes potências como os Estados Unidos, e como isso reflete no Brasil. Uma leitura que não poderia ter vindo em melhor momento.

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"Quando cidadãos não acreditam em seus líderes eleitos, as fundações da democracia representativa se enfraquecem. O valor das eleições é diminuído quando os cidadãos não têm fé nos líderes que elegem." Página 189


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